Estava lendo um livro de geografia quando me deparei com esse belíssimo texto do Ziraldo. Busquei-o na rede. Não o encontrei, então, digitei-o. É de arrepiar.
Era uma vez uma letra E
que tinha o melhor emprego do mundo:
ela trabalhava na Rosa-dos-Ventos.
Você sabe o que é
uma Rosa-dos-Ventos?
É uma rosa sem cheiro
é uma rosa sem espinhos
sem pistilo e sem corola
é uma rosa, uma rosa,
uma rosa, uma rosa...
Não é uma rosa que perfuma
é uma rosa que orienta;
não é uma rosa
de enfeitar a sala
mas de mostrar os caminhos;
não é uma flor
que nasça e cresça,
é uma rosa tranqüila.
É uma rosa desenhada
parada ali no seu canto.
Parada.
Aos pés de todos os mapas
ela orienta os homens
que precisam navegar.
Ela orienta os homens.
Salta mar, salta montanha
salta morro, salta muro
lá vem ele dá do Leste
abrir a porta do Céu
para o Sol fazer o dia.
E, meu Deus, com que alegria
Elias faz esta festa.
Perdão, Elias é o nome
da letra ali, à direita
da rosa – de seu lado leste –
que é sempre uma letra E
E
(como o N é o Norte,
como o S é o Sul
e o W é o Oeste)
nos mapas todos do mundo
Elias é isso aí:
uma letrinha normal.
Não é papa nem é bispo:
é um ponto cardeal.
Pula mar, pula montanha
pula morro, pula muro,
lá vem Elias do escuro
fazendo – lá do Horizonte –
Surgir radiosa a manhã.
É quando diz o menino:
“É dia, vamos, oh, minha irmã!”
E Elias, cheio de alegria.
prepara a aula de Geografia:
“Me dê sua mão direita
e agora olhe em frente:
aí está o seu Norte!
(Vá em frente, boa sorte!)
Se tenho sua mão direita
quem está à sua esquerda
este aí o velho Oeste
(cuja cara, todo dia,
eu vejo há zilhões de anos).
E às suas costas, meninos,
pintando o dia de azul
ficam os montes , as terras
e os mares todos do Sul”.
Aí acaba a lição
de Elias, todo loquaz:
“Se oriente, menina!
Se oriente, rapaz!”
ZIRALDO, Alves Pinto. A leste do E. São Paulo: Melhoramentos, 1990. P. 3, 5-7. (Coleção ABZ).